segunda-feira, 5 de abril de 2010

Injustiças da incompetência

A revista americana Forbes divulgou recentemente o ranking dos homens mais ricos do mundo em 2010. O somatório das cifras dos dez primeiros colocados chega aos 342 bilhões de dólares. Para se ter uma idéia, são aproximadamente 140 bilhões a mais do que o Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul no ano passado (dados da Fundação de Economia e Estatística do RS). Um valor inimaginável para qualquer pequeno burguês, servidor público estável ou cidadão da chamada classe média. Valor ainda mais absurdo àquela parcela da população para quem o simples gasto com transporte compromete grande parte do orçamento. Para aqueles que almoçam prato feito em bandejões populares e têm de contar os níqueis na hora de pagar as contas. Uma realidade, por mais absurdo que possa parecer, ainda melhor do que a de 49 milhões de brasileiros, que recebem até meio salário mínimo per capita, conforme dados do IBGE.
Os bilionários do mundo não são, entretanto, os vilões no processo da má distribuição de renda. Afirmar isso seria ratificar a discutível, se não condenável, premissa católica de que enriquecer é pecado e de que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” (Mateus, 19.24). Ou ainda, defender o falido comunismo em sua forma mais reacionária. O problema não está no enriquecimento e sim na ganância demasiada e na ostentação. Nem mesmo o consumismo, tão criticado, deve pagar o preço. É ele, aliado às necessidades básicas coletivas e individuais, que fomenta o desenvolvimento, gera empregos e gira a roda da economia. O problema está no exagero, na falta de solidariedade de quem é capaz de gastar alguns milhões em carros, que nunca dirigirão; casas, que nunca morarão; ou jóias, que jamais usarão; enquanto toda a população de um país inteiro é mutilada física e socialmente, passa fome e as necessidades mais bárbaras. Entretanto, o anseio por mais, o deslumbramento com a riqueza e as necessidades que aumentam na medida das posses são características intrínsecas do ser humano, e se ele próprio não regula seus ímpetos, cabe ao estado fazê-lo.
Uma melhor distribuição de renda, especialmente no Brasil, depende inicialmente de uma reforma que inverta a ordem de participação tributária. Qualquer economista poderá confirmar o dado estatístico de que, no Brasil, cerca de 40% do que é arrecadado provêm do imposto de renda, enquanto os outros 60% descendem de impostos sobre produtos e serviços. Ou seja, quem mais paga imposto, no país, é parcela mais pobre da população. Aqueles para quem o valor que se paga por um mantimento é extremamente caro e a isenção ou diminuição de impostos sobre o que é adquirido faz uma brutal diferença no orçamento. Entretanto, não se pode ter a visão romântica de que os impostos são a solução para tudo. A chave para a melhor distribuição da riqueza é o planejamento, a competência, a eficiência. Muito mais do que uma reforma tributária, o Brasil precisa de uma reforma cultural, de valores e atitudes. Investimento em educação e tecnologia e de efetivo combate à corrupção.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As dez mais para 2010!

Título e idéia extremamente originais. No dia 31 de dezembro de 2009, a governadora Yeda listou os 10 principais desafios para 2010 (http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2764331.xml&template=3916.dwt&edition=13827§ion=1007). Muito mais interessantes, lanço os meus próprios:

1 - Emagrecer, pelo menos, 5 dos 15 quilos que ganhei nos últimos dois anos e/ou perder a barriga adquirida entre um gole e outro no decorrer de 2009.

2 - Parar de fumar.

3 - Ganhar na loto.

4 - Tirar minha carteira de motorista.

5 - Parar de fumar de novo.

6 - Não ficar desempregado.

7 - Conscientizar-me de que o mês não termina no dia 10 e que tem 30 dias.

8 - Aprender Tango.

9 - Parar de fumar mais uma vez.

10 - Se nada disso der certo, que eu lembre de prometer para 2011, emagrecer, pelo menos, 10 dos 25 quilos adquiridos em 3 anos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O “não” como regra, por Leandro Molina*

Abaixo, o artigo do cara.

O “não” como regra, por Leandro Molina*

Há dias, uma pergunta atormenta a sociedade. Quais são os limites do ser humano para atingir seus objetivos na vida? Ainda é possível falarmos em ética, honestidade e humildade sem sermos considerados tolos?

Mas o que realmente assusta é o “não”. O caso de políticos recebendo dinheiro ou acertos de propina revela a facilidade de muitas pessoas levianas para dizer o não. Ao serem flagrados com dinheiro em pacotes, na cueca ou nas meias, políticos dizem em tom uníssono: “Não sei disso, não tenho envolvimento”.

O “não” é mais que uma negação. É o pseudoargumento de quem não tem argumento. É importante ressaltar que a sujeira não está escondida somente sob os tapetes em Brasília. Ela está presente no cotidiano das instituições, nas empresas e em nossas vidas. Quando um funcionário de uma empresa ou servidor de uma instituição pública usa métodos perversos para usufruir de algum benefício, seja financeiro ou na carreira, também está infringindo a ética que norteia a sociedade.

Nos processos mentais, independentemente dos instintos reprimidos do homem, sempre há causas para os pensamentos, sentimentos ou ações. Esse impulso que move de forma negativa e gera corrupção e desonestidade foge às leis do pensamento e à estrutura de personalidade dos cidadãos probos.

A tradição de corrupção está incutida em todas as sociedades. Não existe sociedade sem crime, sem violência e sem doença. O grande problema é quando conhecemos o crime e a doença e há conformação. Não é admissível que a desonestidade seja transformada em valor positivo. A educação seria um fator de extrema importância no combate a esse estado de leniência. Mas o ensino precisa ter capacidade para competir com as mais variadas formas de crime.

Cabe à sociedade o papel de decidir coletivamente os rumos do país. O cidadão está letárgico. Exemplos de crimes de “colarinho” e de mensaleiros geram uma divisão entre o mundo da nossa casa e o mundo da rua. O que acontece dentro de casa é nosso problema. O que acontece na rua é problema da rua. Esta divisão causa uma omissão do cidadão. Mas os cidadãos também têm responsabilidades.

A experiência democrática tem demonstrado que é preciso aprimorar as instituições de um país onde milhões de reais circulam por baixo do pano e a impunidade virou regra. O problema não é alheio. A isso acrescento uma frase do romancista francês Honoré de Balzac: “A resignação é um suicídio cotidiano”.



*Jornalista

Parabéns!

Volto ao blog, rapidamente, para parabenizar o colega jornalista Leandro Molina por seu artigo publicado na edição de hoje(04/12) de Zero Hora. Felizmente, alguns profissionais ainda refletem, criticam e emitem opiniões de forma ética, exaltando os valores que realmente importam para a saúde da política, da sociedade e da cidadania. Presos ao "lead" e às rotinas das redações, muitos colegas das mídias esquecem da análise crítica fundamental para o exercício da profissão. Reflexão que difere o conhecimento meramente técnico do olhar filosófico e humanístico inerente à profissão e sua capacidade de mudar paradigmas. Parabéns Leandro Molina!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Adultério - Último Capítulo!

-E agora? O que faço? Pensava Rogério.
Em uma fração de segundos pensou em sair correndo. Mas isso, com certeza, iria causar um constrangimento ainda maior.
- Melhor explicar tudo. Desculpar-se. Talvez ela até risse da situação. Poderiam beber alguma coisa depois e conversar. Não!Claro que não. Ela está nua aqui na minha frente. Vai se sentir humilhada. Magoada. E uma mulher com ódio pode ser perigosa. Contaria tudo à Maria Alice. Estaria perdido.
Enquanto ruminava em silêncio que atitude tomar, não teve tempo de reagir. Lindalva deitou-se do seu lado na cama. Beijou-lhe a boca. Abraçou fortemente o seu corpo. Ele não se moveu. Não reagiu. Teve vontade de jogá-la da cama. Mas envolveu-se. Agarrou-a pelas pernas. As mais lindas pernas que já viu. E gostou.

FIM

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Adultério - Penúltimo Capítulo

Tamanha era a euforia de Rogério, naquela segunda-feira, que, atordoado pelos seus pensamentos e desejos por Linda, a estagiária, mal conferiu o que escrevia naquele e-mail. Apenas enviou, rapidamente. A pressa foi tanta, que cometeu o maior erro de sua vida. Enviou a mensagem eletrônica para a caixa errada.

De: Rogério dos Santos
Assunto: Encontro

“Quero ver você, fora daqui. Já não posso mais resistir.”

Foi selecionar o nome na lista de contatos.
João Carlos Rosa
Leandro Lemos
Lindalva Souza
Lindalva Silva. Enviar? “Sim”. Deveria ter optado pelo “Não”. A Lindalva certa, a estagiária, tem o sobrenome Souza.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Adultério - Capítulo 8

A ansiedade de Rogério era tanta, que chegou com tempo de sobra. Voou com o carro. Tomou um drink no bar do hotel e ficou imaginando, idealizando o que estaria por vir. Seria o homem que sempre quis ser. Um apaixonado. Deixaria de ser racional. Explodiria seus desejos mais escondidos, como uma mina, preparada embaixo da terra para jogar pelos ares o que viesse, ao menor toque.
Os minutos passaram rápido, enquanto pensava. Foi para o quarto. Esperou, deitado na cama, seminu, à meia luz. Ouviu bater à porta. Mandou que entrasse. Ela obedeceu. Prontamente, para que não tivesse tempo para arrependimentos, Linda despiu-se. Rogério mal podia acreditar. Em sua frente, via uma silhueta familiar. Mas algo estava errado. Imaginava-a diferente. Olhou para as pernas. Aquelas pernas. As mais lindas pernas que já viu. Levou um susto. Era Lindalva, a sua ex-chefe, aquela com mais de meio século de seios.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Adultério - Capítulo 7

No outro dia, pela manhã, cruzou com Linda pelos corredores. Entraram juntos no elevador, eles e mais outras cinco pessoas. A vontade de Rogério era tomá-la ali mesmo. Beijar-lhe a boca, arrancar-lhe as roupas, agarrar com força seus seios macios, passando suavemente a língua por todo aquele corpo. O mais cobiçado corpo. Resolveu retribuir o bom dia que ela lhe dera. O mais dissimulado que já ouviu. Completa excitação!
Naquele dia preferiu não arriscar. Combinou de almoçar com a esposa, fora dali. “Cara-de-pau, dizia a si mesmo”. “Adúltero descarado. Vais almoçar com a mulher e dentro em poucas horas trairá”. Pela primeira vez, sentia remorso. Não seria um deslize qualquer. Havia grandes chances de ser pego. Talvez quisesse. Pelo menos teria um motivo para largar tudo e viver. Mas não vivia? Não era feliz? Era isso, também, o que queria descobrir. Talvez fosse apenas mais um caso sem importância e depois tudo voltaria a ser como era.
De volta à empresa, trabalhou como há muito não fazia. Convocou duas reuniões para estabelecer novas diretrizes orçamentárias. Revisou parte do plano estratégico. Escreveu. Como escreveu. Tudo para que a imagem de Linda não lhe viesse à mente. Páginas e mais páginas de relatórios. Qualquer momento de distração o faria pensar nela. 18:00. Saiu do prédio. Entrou no carro, que o levaria para o caso da sua vida. Talvez o que de mais interessante ele fazia em toda sua existência até aquele momento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Adultério – Capítulo 6

Aqueles minutos custaram a passar. - Por que ela não responde? E se eu entendi errado? E se ela usar isso contra mim? Estou liquidado, pensava. - Minha mulher saberá. Essa menina pode me processar. Perderei meu emprego e minha família. Tudo o que eu levei anos para construir, destruirei em segundos.

Aquele barulho da caixa de e-mail quase lhe proporcionou um enfarte. A resposta tranqüilizou-lhe o espírito ao mesmo tempo em que o excitou ainda mais. A tréplica foi imediata.

“Amanhã, depois do expediente. 19h, suíte 2000, hotel Novo Magestic”.

O hotel, o mais imponente, moderno e caro da cidade era de um grande amigo seu. Não teria dificuldade em conseguir o melhor quarto. A suíte presidencial. Tudo para Rogério tinha de ser assim, grandioso. Mesmo a traição. Estava feito.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Adultério – Capítulo 5

Mal podia acreditar naquele e-mail. Finalmente! Seu coração quase parou. Sentia-se feliz, desejada. Pensamentos furtivos vieram a sua mente. Imediatamente imaginava o corpo dourado e forte de Rogério sobre o seu. Lia e relia aquele e-mail diversas vezes:

De: Rogério dos Santos
Enviada: segunda-feira, julho de 2009
Assunto: Encontro

“Quero ver você, fora daqui.Já não posso mais resistir.”

De repente, sentiu medo. Sabia que ele era casado. - Talvez seu relacionamento não estivesse indo tão bem. Ele também a queria. Achava quase impossível. Conhecia Maria Alice, encontrou-se com ela algumas vezes em festas da empresa. Ela era linda. - Muito mais do que ela mesma, pensava. O que fazer? O que responderia? Encorajou-se e respondeu a mensagem, afinal de contas, não se preocupava com nada. Era livre, sentia-se inabalável. Tinha aquele sentimento típico da juventude, de superpoderes, de que nada aconteceria a ela.

Res: Encontro

“Escolha local e data. Um beijo, Linda.”

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Adultério - Capítulo 4

Rogério costumava almoçar com antigos colegas no refeitório da empresa. Não gostava de ostentar a sua posição social almoçando diariamente em restaurantes caros. Além de gostar das conversas, que remetiam às histórias do passado, sentia-se bem por saber que os outros admiravam sua simplicidade. Na verdade, era falsa modéstia.

No dia seguinte ao “chopinho” com os amigos, Lindalva sentou-se a seu lado na mesa. Teve vontade de rir ao lembrar dos comentários sobre a “cinquentona” na noite anterior. Realmente estava diferente. Bonitona. Ela havia sido sua chefe, logo que Rogério ingressara na multinacional. Quando mais nova, e ele um recém formado administrador de empresas, chegaram a flertar um pouco. Por esporte. Brincadeira de colegas que passavam a maior parte do tempo, juntos, dividindo a mesma sala.

Em pouco tempo, a mesa estava cheia de antigos colegas e novos estagiários. Entre os colegas, o chefe da contabilidade, amigo de longa data, que por mudar de sala, acabou perdendo contato com Rogério. Junto a ele, Linda. Uma Lollita em terninho preto, tão justo que denunciava todos os seus deliciosos excessos.

Linda sentou-se bem na frente de Rogério. Aquele homem, bem-sucedido, seguro, o “Big Boss”, nunca se sentira tão abalado. Constrangia-se por não conseguir parar de olhar para o decote da moça. - Alguém percebeu? Pensava. Aparentemente não. Exceto ela própria.

Almoçavam todos juntos, com freqüência. Seguiram-se muitos dias nesses encontros públicos. As trocas de olhares ficavam cada vez mais intensas. As pequenas gentilezas de Rogério, como puxar a cadeira, oferecer os talheres, até pagar a conta, também foram se intensificando. É claro que tais gentilezas eram distribuídas a todas as presentes. No dia em que pagou a conta, pagou para todos. Para não ficar óbvio demais. Mas conseguia insinuar o seu interesse à menina.

Naquela segunda-feira, entretanto, tudo seria diferente. Ao chegar no refeitório, poucas pessoas presentes. Rogério iria almoçar sozinho. Serviu-se. Sentou-se. Poucos minutos depois, ela veio em sua direção. Também estava sozinha. Sentaram juntos. Conversaram sobre a faculdade dela. Suas previsões para o futuro. Sobre relacionamentos. Ela revelou uma recente decepção amorosa e que estava interessada em um homem bem mais velho e casado. Pediu a opinião de Rogério.

- Linda, você está na idade de fazer bobagem. Só se tem vinte anos uma vez. Faça o que tiver vontade.

Um silêncio constrangedor pairou pela mesa. Ele ofereceu-se para pagar a conta. Ela, com certo constrangimento, aceitou. Ambos dirigiram-se as suas salas. Sentado em frente ao computador, Rogério teve taquicardia. Um nervosismo infantil. Suavam-lhe as mãos. Sentia-se um adolescente. Lembrou-se da primeira vez em que fizera amor com Maria Alice. Por que a mulher lhe vinha à memória naquele momento? Remorso? Não havia feito nada. Não tinha porque se sentir culpado. Mas sentia-se. Sabia que iria fazer. Não resistiria. Não resistiu. Na tela do computador, escrevia:

De: Rogério dos Santos
Assunto: Encontro

“Quero ver você, fora daqui. Já não posso mais resistir.”

Enviar? Sim.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Adultério - Capítulo 3

- Não posso ficar muito tempo, tenho que encontrar a patroa.

- Pô Rogério, deixa de ser pau-mandado cara. Liga pra “nêga véia” e mostra quem usa as calças.

Aqueles homens de meia-idade, com seus cabelos grisalhos e avantajadas barrigas, que denunciavam seus hábitos etílicos, riam feito crianças. Os chopinhos depois do expediente rendiam sempre as mesmas conversas: futebol, alguma situação ocorrida na empresa, algum colega que falecia prematuramente e, claro, mulheres.

- Vocês viram como está a Linda?

- A estagiária da Contabilidade?

- Não era dela que eu estava falando. Mas já que mencionou. Que guriazinha bem gostosa. Vocês viram o tamanho da bunda? Pelo amor de Deus!

- E ela nem é tão bonita. Mas é boa. Farta né?

- Sim, farta. “Farta” pouco para ser gordinha. Mas não é. Eu só que-
ria duas horinhas com ela.

- E eu, quinze minutos.

Mais uma vez, as gargalhadas, propagando-se em meio a fumaça dos cigarros e aos canecos de chope, chamavam a atenção para a mesa daqueles cinco homens. Colegas e amigos. Mais do que colegas, cúmplices. Companheiros de trabalho e, como gostava de falar Adalberto - o mais velho da turma - companheiros de “fubangagem”. E é ele quem repara a desatenção e o desconforto de Rogério:

- O que foi Midas? (era como chamavam Rogério, dizendo que qualquer coisa em suas mãos virava ouro) Ficou quieto quando começamos a falar da Lindinha da contabilidade? O que tu achas?

- Muito gostosa. Mas é uma guriazinha. Quase pedofilia. Acho que o Paulão ia falar
de outra. Quem é?

- A Lindalva.

- Que Lindalva o quê? A mulher ta acabada. Teve passado, mas já era. Desdenha Julio.

- Olha lá que a separação fez bem pra titia. Ta “inteiraça”. “Recauchutada”. Bonitona. Replica Paulão.

- Bem capaz! Essa aí ta aposentada. Já deu o que tinha que dar.

- Ah, pára Julio. Tu já andaste “de mãozinha” com coisa bem pior na
Rua da Praia. E ainda pagou.

E mais risadas.

Linda e Lindalva, apesar de terem o mesmo nome e apelido, não se pareciam em nada. A segunda, separada do marido recentemente, tinha 54 anos. Denunciava, em suas características, ter sido belíssima um dia. Ainda possuía alguns atributos. Bonito rosto, marcado por algumas rugas, seios fartos, porém com mais de meio século de vida, e pernas como jamais se viu. Nisso, todos concordavam, eram as mais belas pernas que já viram. Vinte anos antes, quando a maioria deles entrara na empresa, eram ainda melhores, evidentemente. Mas ainda serviam muito bem, até mesmo aos mais seletivos. Longas e rijas pernas. Grossas e lindas.

A primeira Linda, do alto dos seus 20 anos, não era o estereótipo de beleza. Mas era abundante, exageradamente gostosa. Os mais rudes a chamavam de potranca. Clarismunda. Porém, nem tão feia de cara assim. Com um corpo que, inevitavelmente, sucumbiria à ação da gravidade um dia. Mas dali a muito tempo. Aos 20 anos, não parecia haver fenômeno físico capaz de deixar aquele corpo menos cobiçado. As outras mulheres da empresa a chamavam de gorda. Argüindo que, quando Linda tivesse a idade delas, não chegaria aos seus pés. O fato é que ela não tinha a idade delas. Por motivos bem diferentes dos de Rogério, a menina também era invejada. E era justamente isso o que mais o atraia.